Aqui Tão Longe
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RTP1 / RTP Play
Se “Aqui Tão Longe” fosse bom, era capaz de se desculpar aquele início trapalhão e absurdo: Cristina vai para Londres trabalhar e fica chateada porque perdeu o avião. Ninguém no seu perfeito juízo fica feliz por perder um avião, só que aquele caiu – sem certezas se foi terrorismo ou não. Por isso, ela devia estar feliz: foi a única sobrevivente, precisamente por não estar naquele avião. Mas não, fica chateada, discute com a mãe “vocês não querem é que eu me vá embora” e montes de outras coisas disparatadas. Já agora, os argumentos da mãe também são parvos. E se isto não faz sentido para o leitor, nada a fazer: vá ver o episódio, porque é mesmo assim. A sério, santa paciência. Ninguém se deu ao trabalho de questionar isto?
O primeiro episódio dá toques em vários aspectos da crise em Portugal e da vida actual – com momentos realmente embaraçosos, como aquela conversa em volta de telemóveis e rejeitar chamadas, própria de quando existia a Telecel – e as questões alongam-se e alargam-se nos episódios seguintes. Contudo, essa crise – da saída de jovens adultos do país, do aumento das rendas, do desemprego, da vida à distância seria oportuna e próxima se feita há quatro anos.
Agora, mesmo que ainda esteja a acontecer, soa a uma leitura preguiçosa, fácil, e sem grande carácter. A aposta da RTP na ficção portuguesa é de louvar (embora esta ideia de séries em modo diário dê arrepios), mas já é tempo de sair da escola primária e deixar de passar todos os alunos só porque sim.
Publicado originalmente na Time Out Lisboa a 13/04/2016